quarta-feira, 30 de julho de 2008

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Todos os dias penso e repenso se os meus olhos serão dignos da luz brilhante que me ilumina os passos na escuridão, se a minha pele será digna do vento seguro que me empurra quando rodopio sem rumo nas ondas da vida.
Todos os dias as dúvidas me atormentam de novo, se os meus dedos serão dignos de te percorrer a pele quente e macia, se os meus lábios serão dignos de tocar levemente o teu belo e forte corpo.
Porque se de tal fosse digna, porque insistiria a luz brilhante em apagar-se em cada esquina que encontro? Porque se silenciaria o vento seguro deixando-me à deriva quando eu mais preciso? Porque teimaria a tua pele quente e macia em derreter-se perante os meus dedos, enganando-me, se alguma vez lá estivera? Porque se afastaria o teu belo e forte corpo como se empurrado pelo sopro dos meus lábios?
Afinal, porque seria uma simples e tola rapariga como eu, digna de tais tesouros?
Talvez, por divertimento, um travesso Deus do Olimpo me tenha imposto tais dúvidas, tais ilusões, sabendo, cruelmente, que nunca passarei de mais do que um minúsculo grão de areia perdido no meio do longo areal do destino, apenas digno de ser empurrado pelas ondas ou levado pelo vento.

sábado, 26 de julho de 2008

Vida e Morte


Um sopro de vento
Soprado por ti,
Que me escorrega entre os dedos
E me faz desejar por mais.
Um raio de luz
Irradiado por ti,
Que me ilumina o caminho
Deixando-me nas escuras, depois.
Um banho de mar
Entregue por ti,
Que me refresca a alma
Para de seguida me confundir,
Um beijo molhado
Beijado por ti,
Amor,
Que é minha razão de viver
E me deixa, depois, morrer.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Saudade

Já me queima os lábios dizer o teu nome,
Pois sinto o gosto de saudade,
Amargo e frio, na boca,
E o aperto seco no peito,
Que me faz arfar de dor.
O fogo quente da raiva, por me deixares assim,
Alastra nas minhas entranhas,
Secando-me as lágrimas de dor por estares longe,
Deixando apenas cinzas,
Memórias cinzentas,

Tempos em pó.

domingo, 13 de julho de 2008

Anseio

Quero falar contigo mas não posso usar a voz… Podes tentar ouvir o meu pensamento?
Nunca ansiaste por uma coisa tão surpreendente que te fizesse gritar de alegria? Que te fizesse lançar gargalhadas de surpresa, tal e qual uma criança?
Nunca pediste por alguma coisa tão nova para ti que te fizesse cantar alto, com a tua voz fina e desafinada para toda a gente ouvir?
Nunca esperaste por algo que te fizesse quebrar todas as rotinas? Algo que te fizesse largar tudo e todos e correr, sentir a brisa amena na pele suave, sentir os cabelos esvoaçarem atrás de ti tentando acompanhar-te, sentir o tecido frio e suave do vestido colado ao corpo deixando revelar aqui e ali as tuas formas delicadas, fechar os olhos e ouvir o bater do coração, a respiração acelerada?
E rodopiar, olhar para cima e observar o remoinho azul, com nuvens de algodão doce aqui e ali, rodear o corpo com os braços e sentir-te criança de novo.
Rodopiar até ficar tonta. E finalmente, quando não puderes aguentar mais, deixar cair os joelhos no chão, fechar novamente os olhos e ver as estrelinhas no fundo preto.
Nunca ansiaste por nada assim?

Protecção

Encostei a cabeça no teu peito, e senti o bater do teu coração e a segurança de estar nos teus braços, senti que por nada deste mundo tu me largarias. Então, apertaste as tuas mãos na minha cintura e puxaste-me ainda mais para ti. Encostaste os lábios ao meu cabelo, e quando falaste, a voz, naturalmente suave mas forte, tornou-se num murmúrio de segredo, o que me deu um arrepio na espinha e me fez cravar-te os dedos nas costas em busca de protecção."ensina-me a voar como tu."

Tudo e Nada


Se eu fosse uma filósofa diria que nada é nada mas que nunca é nada e é sempre alguma coisa, se eu fosse uma física diria que se nada é alguma coisa, então nada pode medir-se e não é nada, se eu fosse uma matemática diria que nada é nada, e se é nada é zero.
Já que não sou filósofa, física e muito menos matemática, não sei o que é nada, mas sei que nada é, sem dúvida, alguma coisa. Só pode ser alguma coisa, dado que sinto nada a percorrer-me as veias, sinto nada a cair-me pelos olhos e a rolar-me pela cara, as minhas pernas ficam fracas e os dedos dormentes por nada, a minha face fica branca e fria de nada e, dentro do peito, o meu coração ameaça deixar de bater ao sentir o nada.
Ao mesmo tempo, sei que nada é alguma coisa quando nada me faz ficar sem fôlego. Quando nada cora a minha cara e me enche de calor, quando o meu coração bate tão depressa como o bater de um tambor, por nada.
Sei, então, que nada é tudo e tudo é nada, e que tu és o meu tudo, que tu és o meu nada.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Água Morna

Água morna, gota após gota, pingo após pingo, caem sobre a pele para depois escorrerem lentamente para o chão lavando-a de todas as outras gotas. Mas aí caem mais gotas, cobrindo a pele branca, para serem lavadas de seguida, e caem e lavam, e caem e lavam até os dedos ficarem enrugados, até a pele rosada dos lábios ficar dormente, até não restarem impurezas. E a pele, sempre salpicada com gotinhas e pingas de todos os tamanhos e ligeiros riachos de gotas a escorrerem para lavarem outras gotas, perde toda a frieza da dor, toda a secura do sofrimento, para adquirir o ameno e a maciez da paz interior.
Água morna, que aquece a alma, que aquece o corpo, que aquece o coração, água morna que me liberta do sofrimento que me impuseste, enquanto estico os braços para a sentir em todas as partes do meu corpo, água morna que me faz ver-te com outros olhos e amar-te tanto ou ainda mais, enquanto abro ligeiramente os lábios e permito a entrada de apenas algumas gotas, água morna que me faz perdoar-te por me fazeres gostar tanto de ti, enquanto a deixo escorrer pelas minhas costas, água morna que me limpa os pensamentos da confusão que as tuas palavras geram em mim.