quinta-feira, 3 de julho de 2008

Água Morna

Água morna, gota após gota, pingo após pingo, caem sobre a pele para depois escorrerem lentamente para o chão lavando-a de todas as outras gotas. Mas aí caem mais gotas, cobrindo a pele branca, para serem lavadas de seguida, e caem e lavam, e caem e lavam até os dedos ficarem enrugados, até a pele rosada dos lábios ficar dormente, até não restarem impurezas. E a pele, sempre salpicada com gotinhas e pingas de todos os tamanhos e ligeiros riachos de gotas a escorrerem para lavarem outras gotas, perde toda a frieza da dor, toda a secura do sofrimento, para adquirir o ameno e a maciez da paz interior.
Água morna, que aquece a alma, que aquece o corpo, que aquece o coração, água morna que me liberta do sofrimento que me impuseste, enquanto estico os braços para a sentir em todas as partes do meu corpo, água morna que me faz ver-te com outros olhos e amar-te tanto ou ainda mais, enquanto abro ligeiramente os lábios e permito a entrada de apenas algumas gotas, água morna que me faz perdoar-te por me fazeres gostar tanto de ti, enquanto a deixo escorrer pelas minhas costas, água morna que me limpa os pensamentos da confusão que as tuas palavras geram em mim.

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