terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Rigidez


Sento-me aqui, incapaz de me mexer, o meu corpo está hirto, parece que me é impossível relaxá-lo, os meus lábios apertados formando uma pequena e severa linha cor-de-rosa no seu lugar, as minhas mãos frias de gelo, frias de dor, pousadas no colo por falta de outro lugar para descansarem e os meus olhos fechados com esperança de esquecer aquilo que viram. As únicas coisas que parecem ser capazes de se mover são a mente e o coração, as únicas coisas que permitem discernir entre estar viva ou morta.

Os pensamentos revolvem-se-me na cabeça, sem transparecerem absolutamente nenhuma expressão para a minha cara branca de choque, sobrepõem-se, amontoam-se até parecer que a cabeça vai explodir.

O coração bate, desesperado, cada vez lutando mais e mais para conseguir bater novamente, martelando agora, ecoando num corpo que parece vazio.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Um dia foste sonho,
Novo, desconhecido,
Um dia foste desejo,
Impróprio, indevido.

Um dia foste sol,
Com os teus raios me iluminaste,
Um dia foste mar,
E com ondas as tristezas levaste.

Um dia foste vida,
Com os teus braços protectores,
No outro foste morte,
Com os actos redentores.

Imploro-te

Deitada na relva húmida, numa noite de Verão, sentindo a brisa leve nos cabelos e observandoas luzes brilhantes das estrelas no céu, anseio.
Bate-me o coração, acelerado, no peito e imploro-te, a ti, a todos, a algo superior, deixa-me ficar só mais um bocadinho.
Não me obrigues a enfrentar os gigantes do futuro nem a rever as pegadas do passado, deixa-me ficar um pouco mais.
Imploro-te, peço-te por tudo, minha vida, meu coração, que leves as tuas garras ferozes que me puxam daqui e contenhas o sopro violento que rouba o rumo da minha vida.
Peço-te, apenas um bocadinho mais de tempo, uma nova olhadela ás estrelas, um novo sopro nos cabelos, um novo toque na relva molhada.
É tudo o que peço, é tudo para o que vivo.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Navio

A vida é um oceano de mares amenos,
Lugares tempestuosos, lugares serenos.
Eu sou um navio de canhões e madeira,
Frágil, mas protegido, á sua maneira.
Erguem-se em mim grandes velas de cor branca,
Ondeando, ondeando,
Quais cabelos ao vento voando.

As marés sobem e voltam a descer,
Da manhã ao anoitecer,
E, sozinha, continuo-me a perder,
Nas grandes ondas da vida tento sobreviver,
E nos ventos fortes da mente acabo por perecer.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

All Around Me


As minhas mãos procuram-te,
Sinto-te nas pontas dos dedos.
Os meus dentes escondem-se atrás dos lábios,
Sinto-te no sorriso quase impossivel de conter.
Os meus olhos fixam o espelho,
Vejo-te no seu reflexo.
O meu nariz revista o ar
Á procura de vestígios do teu perfume.
Sinto-te tão longe
Mas tão perto.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

.

Todos os dias passam lentamente, tão lentamente, coração, quando tu não estás aqui.
A todos os minutos lágrimas de dor tentam brotar-me dos olhos, lágrimas que seco, mordendo o lábio com força, e a todos os segundos um grito de angustia ameaça fugir-me do peito, silencio-o, engulo em seco.
Já passaram os tempos em que pronunciava o teu nome como sinal de alegria. Os meus lábios já não se atrevem a proferi-lo, medrosos da queimadura seca da saudade, do fogo lento que alastra nas entranhas, deixando apenas cinza atrás de si.
Já passaram os dias em que adormecia com a tua imagem na mente, agora, solto as lágrimas presas durante o dia e choro até ficar seca por dentro, porque sei que, ao outro dia, tudo vai começar de novo. Choro, por isso, até me doer a cabeça e ficar com os olhos inxados, e adormeço, então, de exaustão, com a mente pejada de imagens escuras.
Mas chegou a hora, hoje e agora, de parar de reprimir as lágrimas, chegou a hora de te dizer, de soltar o grito preso no peito, de te gritar o quanto te amo e o quanto sinto a tua falta. Chegou a hora de te procurar e de te sentir, novamente, como meu e de sentir a protecção deser tua. Por isso, volta, meu amor, porque eu não vivo sem ti.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A vantagem de ser pequena é perder-me no teu abraço, encostar a cabeça no teu peito e, então, sentir o teu coração e a segurança dos teus braços.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Meu

Prendeste-me o corpo,
Levaste-me a alma,
Ficaste-me com o coração
E partiste.
Mas no meu corpo vazio,
No meu espirito só,
Ressoa a mesma frase de sempre:
"Um dia foste meu!"

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Polos


Um dia aqueceste-me
Com um fogo bom,
Que embalava o coração
Com melodias de coragem e bravura,
Que me acolhia nos braços protectores,
Semeando alegria e esperança.

Um dia banhaste-me em pureza
Com água leve e morna,
Que clarificava a alma
Com imagens de paz
E que lavava o espirito,
Refrescando tudo de bom no meu eu.

Um dia foste embora
E o teu fogo bom aqueceu,
Alastrou-me nas entranhas,
Ateado por ti,
Queimando-me por dentro,
Secou-me.

Um dia foste embora
E a tua água morna gelou,
Solidificou-me o sangue,
A vida,
Gelou-me o corpo,
A alma.

Um dia foste embora
E o meu Mundo ruiu,
Queimado pelo teu fogo,
Gelado com a tua água.

5 Sentidos


Quero que sintas com as mãos
Cada traço do meu rosto,
Cada curva do meu corpo.
Quero que percorras com os olhos
Todas as cores que existem nos meus,
Todos os sinais presentes em mim.
Quero que beijes gentilmente
Todas as partes da minha pele,
Todas as rugas dos meus lábios.
Quero que sintas o aroma
De todos os meus fios de cabelo,
De todas as gotas do meu perfume.
Quero que ouças as notas
De todos os timbres da minha voz,
De todos os sons do meu riso.
Porque só quando me sentires com todos os sentidos
Vou acreditar que me amas como sou.
Todas as partes da minha pele,
Todas as cores dos meus olhos,
Todos os meus beijos suaves,
Todos os aromas da minha essência
E todos os sons pronunciados por mim.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Um estranho

Gostava de estar ali, deitada na suave e protectora erva, observando o jogo de sombras projectado pelas frágeis folhas de outono, deixando passar ainda alguns laivos do céu azul brilhante e um ou outro quente raio de sol, ouvindo as vozes murmuradas da floresta e os movimentos escondidos dos seus pequenos habitantes. Era, portanto, meu costume deitar-me naquela clareira que testemunhara tantas das brincadeiras e segredos íntimos de tantas e tantas gerações e esperar que anoitecesse. Naquele dia, porém, foi diferente.
Lá estava eu, no meu vestido branco e de cabelo apertado na nuca, sonhando acordada, quando as vozes se calaram e os movimentos cessaram. Sentei-me, procurando a causa de tal perturbação, e lá estava ele, meio sentado meio ajoelhado nas folhas caídas, um fantástico jogo de cores que lhe combinava com o curto cabelo. Vermelho escuro, castanho e alguns laivos de laranja, ou talvez fosse apenas o reflexo de um forasteiro raio de sol. As suas feições eram fortes e a tez pálida e uma pena de gaivota pousava, erecta, nos seus estranhos cabelos. Nas grandes mãos segurava um pequeno instrumento, uma espécie de flauta ou assobio, que levou aos lábios e produziu a música mais suave que algum dia ouvi. Capaz de fazer chorar ou de encher o coração de alegria, que embalava a mente, com a sua melodia, e renovava o corpo.
Quando terminou, aproximou-se de mim, soltou-me o cabelo e enrolou a sua pena num dos meus revoltos e escuros caracóis, de seguida, apontou para o pequeno lago para que eu visse a partida dos cisnes, com os longos pescoços e as asas brancas como a neve. Quando me virei de novo para olhar para ele, para estudar melhor a sua figura, desaparecera.
Se era Deus ou mortal, homem ou animal, não sei nem nunca descobrirei.
Assim, caminhei contente para casa, com uma pena de gaivota no cabelo e a música suave ainda dançando nos meus ouvidos.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

?

Todos os dias penso e repenso se os meus olhos serão dignos da luz brilhante que me ilumina os passos na escuridão, se a minha pele será digna do vento seguro que me empurra quando rodopio sem rumo nas ondas da vida.
Todos os dias as dúvidas me atormentam de novo, se os meus dedos serão dignos de te percorrer a pele quente e macia, se os meus lábios serão dignos de tocar levemente o teu belo e forte corpo.
Porque se de tal fosse digna, porque insistiria a luz brilhante em apagar-se em cada esquina que encontro? Porque se silenciaria o vento seguro deixando-me à deriva quando eu mais preciso? Porque teimaria a tua pele quente e macia em derreter-se perante os meus dedos, enganando-me, se alguma vez lá estivera? Porque se afastaria o teu belo e forte corpo como se empurrado pelo sopro dos meus lábios?
Afinal, porque seria uma simples e tola rapariga como eu, digna de tais tesouros?
Talvez, por divertimento, um travesso Deus do Olimpo me tenha imposto tais dúvidas, tais ilusões, sabendo, cruelmente, que nunca passarei de mais do que um minúsculo grão de areia perdido no meio do longo areal do destino, apenas digno de ser empurrado pelas ondas ou levado pelo vento.

sábado, 26 de julho de 2008

Vida e Morte


Um sopro de vento
Soprado por ti,
Que me escorrega entre os dedos
E me faz desejar por mais.
Um raio de luz
Irradiado por ti,
Que me ilumina o caminho
Deixando-me nas escuras, depois.
Um banho de mar
Entregue por ti,
Que me refresca a alma
Para de seguida me confundir,
Um beijo molhado
Beijado por ti,
Amor,
Que é minha razão de viver
E me deixa, depois, morrer.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Saudade

Já me queima os lábios dizer o teu nome,
Pois sinto o gosto de saudade,
Amargo e frio, na boca,
E o aperto seco no peito,
Que me faz arfar de dor.
O fogo quente da raiva, por me deixares assim,
Alastra nas minhas entranhas,
Secando-me as lágrimas de dor por estares longe,
Deixando apenas cinzas,
Memórias cinzentas,

Tempos em pó.

domingo, 13 de julho de 2008

Anseio

Quero falar contigo mas não posso usar a voz… Podes tentar ouvir o meu pensamento?
Nunca ansiaste por uma coisa tão surpreendente que te fizesse gritar de alegria? Que te fizesse lançar gargalhadas de surpresa, tal e qual uma criança?
Nunca pediste por alguma coisa tão nova para ti que te fizesse cantar alto, com a tua voz fina e desafinada para toda a gente ouvir?
Nunca esperaste por algo que te fizesse quebrar todas as rotinas? Algo que te fizesse largar tudo e todos e correr, sentir a brisa amena na pele suave, sentir os cabelos esvoaçarem atrás de ti tentando acompanhar-te, sentir o tecido frio e suave do vestido colado ao corpo deixando revelar aqui e ali as tuas formas delicadas, fechar os olhos e ouvir o bater do coração, a respiração acelerada?
E rodopiar, olhar para cima e observar o remoinho azul, com nuvens de algodão doce aqui e ali, rodear o corpo com os braços e sentir-te criança de novo.
Rodopiar até ficar tonta. E finalmente, quando não puderes aguentar mais, deixar cair os joelhos no chão, fechar novamente os olhos e ver as estrelinhas no fundo preto.
Nunca ansiaste por nada assim?

Protecção

Encostei a cabeça no teu peito, e senti o bater do teu coração e a segurança de estar nos teus braços, senti que por nada deste mundo tu me largarias. Então, apertaste as tuas mãos na minha cintura e puxaste-me ainda mais para ti. Encostaste os lábios ao meu cabelo, e quando falaste, a voz, naturalmente suave mas forte, tornou-se num murmúrio de segredo, o que me deu um arrepio na espinha e me fez cravar-te os dedos nas costas em busca de protecção."ensina-me a voar como tu."

Tudo e Nada


Se eu fosse uma filósofa diria que nada é nada mas que nunca é nada e é sempre alguma coisa, se eu fosse uma física diria que se nada é alguma coisa, então nada pode medir-se e não é nada, se eu fosse uma matemática diria que nada é nada, e se é nada é zero.
Já que não sou filósofa, física e muito menos matemática, não sei o que é nada, mas sei que nada é, sem dúvida, alguma coisa. Só pode ser alguma coisa, dado que sinto nada a percorrer-me as veias, sinto nada a cair-me pelos olhos e a rolar-me pela cara, as minhas pernas ficam fracas e os dedos dormentes por nada, a minha face fica branca e fria de nada e, dentro do peito, o meu coração ameaça deixar de bater ao sentir o nada.
Ao mesmo tempo, sei que nada é alguma coisa quando nada me faz ficar sem fôlego. Quando nada cora a minha cara e me enche de calor, quando o meu coração bate tão depressa como o bater de um tambor, por nada.
Sei, então, que nada é tudo e tudo é nada, e que tu és o meu tudo, que tu és o meu nada.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Água Morna

Água morna, gota após gota, pingo após pingo, caem sobre a pele para depois escorrerem lentamente para o chão lavando-a de todas as outras gotas. Mas aí caem mais gotas, cobrindo a pele branca, para serem lavadas de seguida, e caem e lavam, e caem e lavam até os dedos ficarem enrugados, até a pele rosada dos lábios ficar dormente, até não restarem impurezas. E a pele, sempre salpicada com gotinhas e pingas de todos os tamanhos e ligeiros riachos de gotas a escorrerem para lavarem outras gotas, perde toda a frieza da dor, toda a secura do sofrimento, para adquirir o ameno e a maciez da paz interior.
Água morna, que aquece a alma, que aquece o corpo, que aquece o coração, água morna que me liberta do sofrimento que me impuseste, enquanto estico os braços para a sentir em todas as partes do meu corpo, água morna que me faz ver-te com outros olhos e amar-te tanto ou ainda mais, enquanto abro ligeiramente os lábios e permito a entrada de apenas algumas gotas, água morna que me faz perdoar-te por me fazeres gostar tanto de ti, enquanto a deixo escorrer pelas minhas costas, água morna que me limpa os pensamentos da confusão que as tuas palavras geram em mim.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Vida



Passa os dedos
Sente a pele,
Levanta os braços
Sente o cabelo nos ombros,
Dança
Sente o corpo a mexer,
Sente cada curva do corpo,
Ri-te alto
Com gargalhadas de menina
Sente o brilho nos olhos,
Grita o mais alto que puderes
Sente a voz a vibrar na garganta,
Enche o peito
E sente o ar nos pulmões,
Pousa a mão no pulso
Sente o coração a bater.
Encontra o que tens de melhor em ti,
Sente-te,
Vive.

domingo, 15 de junho de 2008

Pop Pop



Pop pop, vem cá, vem ao pé de mim sentir, vem ao pé de mim ouvir. Sente, sentes? Ouve, ouves? É o que tu me fazes. Pop pop, fazes o meu coração bater forte. Pop pop, fazes os pelos do pescoço levantar. Pop pop, fazes as minhas pernas tremer. Pop pop, fazes-me rir, meu Mundo. Por isso vem cá outra vez e ouve-me, sente-me, toca-me, vive-me.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Leva-me Ao Céu

Então puseste os meus braços á volta do teu pescoço e as tuas mãos na minha cintura e levantaste-me do chão. Os dois num voo perfeito, numa sintonia perfeita, como se o Mundo fosse só nosso. Fechei os olhos com força para não olhar para a longa descida. Levaste-me tão alto que podia tocar nas estrelas se me atrevesse a largar-te por um bocadinho só. Tocaste-me os lábios com os teus, e todos os medos desapareceram.

Quando dei por mim, tinha os pés assentes na terra outra vez, e rodeavas-me num abraço apertado.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Rosa



E ali estava ela.
Tão vermelhinha,
Ainda com algumas gotas do orvalho da manhã,
Gotas que correm na doce pétala,
Lágrimas que escorrem na face inocente de criança.
Fiquei ali,
Observei-a abrir as folhas
Enquanto o sol subia no céu.
Cabeça apoiada na mão,
Vestido sujo da pura terra.
Estendi a mão e toquei
No espinho mais aguçado,
O grito percorreu o ar,
Veloz,
Uma torrente de lágrimas e sangue
Manchou o chão de pedra.
E ela resplandecia,
Rejubilava,
Como se dissesse
“Eu avisei-te”.

domingo, 25 de maio de 2008

És tu


Digo que és tu,
És tu a luz,
Que com passos seguros
Me guia no escuro.
És tu a esperança,
Que cintila sofregamente
No meu pobre coração.
És tu a dor,
Que me arranha a garganta
E me impede de falar,
Que me queima os olhos
Cada vez que te vejo partir,
Que me assombra os lábios
Quando não sinto o teu doce beijo.
És tu que me formas,
És tu que me dás vida,
És tu
Que sou eu.